segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A psicologia do sentido da vida

  • "Eu não gosto do Freud, porque ele nos prende irremediavelmente ao passado. concordo com Frankl, pois ele é o psicólogo da esperança" (Quintana, 1984, testemunho pessoal).
  •  A relação terapêutica na logoterapia tem o caráter de um encontro existencial.
  •  O homem que se considera sem sentido na vida, é não somente infeliz, mas também incapaz de lutar para viver (Frankl, 1976).
  • A logoterapia é uma terapêutica que também não se preocupa com o sintoma, ela se dirige à pessoa do paciente com a intenção de trocar sua postura frente ao sintoma.
  • Sou da mesma cidade de Freud, mas não do mesmo tempo de Freud. No tempo de Freud a repressão era sexual, no meu tempo a repressão é espiritual (Frankl) 
  •  As situações limites não podem ser aprendidas, somente sentidas.
Xausa, I. A. D. M. (1988). A psicologia do sentido da vida. Petrópolis: Vozes. 
 

Parêmias de Ética

Ética é a busca de clemência... no nada no ar, na dor, na lama, na fama, na grama, na miséria, no desespero...
Ética é o estampido de dor, do gemido, do grito...
é a busca da conduta numa vida prostituta...
ação num mundo desesperado, grafado em misericórdia...
é acreditar que a busca da saúde não é mera humilhação...
é atirar migalhas aos esfomeados, enlameados, baqueados...
é o estreitamento da vida na consciência da finitude;
num corte da sorte afastando-se da morte...
num momento, uma trégua, uma luz, um estranhamento da razão... na emoção, da pulsação e da ilusão...
Ética é a busca das cores na imensidão das trevas... clemência, complacência... é gritar e não ser escutado... é pedir e ser apenas observado...
é ser aclamado por si mesmo... sem estética nem ética;
num momento em que a medicina comemora a clonagem completa
de uma ovelha... clone um novo significado para a humanidade...
em tese no futuro poderemos ter clones humanos...
clones, bebês de proveta, manipulação genética...
e a ética passeia entre os tópicos de algumas legislações...
passeia como a própria utopia da dignidade humana,
frente aos experimentos científicos...
passeia por entre flores, alamedas, mas sem alcançar a escora que imponha limites ao desrespeito da condição humana. É gritar e não ser escutado...
Ética é implorar amor, compaixão e ouvir argumentos teóricos, científicos, razão em lugar de emoção... um feto no lixo... a vida na contramão...
para quê o aborto se depois a sociedade mata naturalmente?! para quê atendimento hospitalar se o princípio da vida é a própria morte?!
para quê discutir a eutanásia se existem métodos mais eficazes?!
como a superlotação carcerária... os grupos de extermínio
das periferias das grandes cidades... ou o total
desprezo governamental pela miséria acintosa da
nossa população... ou pelo teor de toxicidade presente
nos alimentos... pela putrefação ambiental provocada
pela tecnologia desenvolvimentista...
para quê discutir normas e condutas profissionais
se a fome corrói e ceifa milhares de vítimas até
mesmo nos portões hospitalares?!
para quê a descoberta de tantas e tantas terapêuticas
salvadoras se conseguimos apenas ser vice-campeões mundiais na incidência de hanseníase?! E se em outras áreas como a malária e a doença de Chagas somos imbatíveis?!
Também no futebol somos vitoriosos...
como somos ainda o país do carnaval, do samba e da mulata que requebra com as nossas emoções... nosso pudor... nossa ética... ética que discute atitudes mas que se mantém impassível diante de crianças enlameadas no crack, na cola, na coca...
e buscam esperança nos restos dos nossos lixos... nas nossas escarradeiras assépticas... livre de todos os germes... e vermes e germes... discutimos a ética e aliviamos nossas culpas e omissões sociais atirando moedas aos miseráveis... que limpam os vidros de nossos automóveis diante do vermelho dos semáforos... do vermelho da dor, do sangue, da vergonha... atiramos as moedas mas não temos coragem de enfrentá-los no olhar... na estampa do ranho que escorre do nariz e emoldura os lábios...
Para quê discutir o destino dos lixos hospitalares?! se não resolvemos sequer a questão dos lixos humanos?! os dejetos hospitalares podem ser incinerados ou enterrados... o extermínio humano, ao contrário, insiste
em se mostrar nos semáforos, nas avenidas, debaixo de pontes, viadutos, na ética humana... ética que exclui a excludência social...
sem veemência nem clemência... e nem decência;
oramos ao pai nosso e implicitamente chamamos a
todos de irmãos... pedimos paz, justiça e até misericórdia...
mas escarramos nossa omissão sobre a dor, a miséria,
a lama, o nada, a indiferença...
E gritar e não ser escutado...
Falamos em ética... insistimos, resistimos e desistimos...

Valdemar Augusto Angerami — Camon






quinta-feira, 9 de junho de 2016

The Invitation

Não me interessa saber o que você faz para ganhar a vida.
Quero saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender
aquilo pelo qual seu coração anseia.
Não me interessa saber a sua idade.
Quero saber se você se arriscará a parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua. Quero saber se tocou o âmago de sua dor, se as traições da vida o abriram ou se você se tornou murcho e fechado
por medo de mais dor! Quero saber se pode suportar a dor, minha
ou sua, sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la. Quero saber se você pode aceitar alegria, minha ou sua; se pode dançar com abandono e
deixar que o êxtase o domine até as pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem
nos dizer para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.
Não me interessa se a história que me conta é a verdade.
Quero saber se consegue desapontar outra pessoa para ser autêntico consigo mesmo,
se pode suportar a acusação de traição e não trair a sua alma. Quero saber se você pode ver beleza mesmo que ela não seja bonita todos os dias, e se pode
buscar a origem de sua vida na presença de Deus. Quero saber se você pode
viver com o fracasso, seu e meu, e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: “Posso!"
Não me interessa onde você mora ou quanto dinheiro tem.
Quero saber se pode levantar-se após uma noite de sofrimento e desespero,
cansado, ferido até os ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos.
Não me interessa saber quem você é e como veio parar aqui.
Quero saber se você ficará comigo no centro do incêndio e não se acovardará.
Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem você estudou.
Quero saber o que o sustenta a partir de dentro, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e se, realmente, gosta da companhia que tem nos momentos vazios.
The Invitation, inspirado por Sonhador da Montanha Oriah, ancião índio americano, maio de 1994


sexta-feira, 13 de maio de 2016

OUSADIA


Buscar o aparente impossível
Acreditar no infinito em ti
Ir além, quando o caminho parece findo
Opor, transpor, alçar voo

Sorver a cicuta da tempestade interior
Banhar-se nos seus mistérios
Ousar te perder e permitir te encontrar
Sem esquecer, jamais, de te perder de novo
Mostrar-te frágil, quando te entendes assim
E quando todos te querem forte
Emergir do poço dos teus lamentos
Poderoso, renovado e cheio de amor

Sonhar um mundo livre
Acreditar que podes mudar o que te oprime
Concretizar, em ação, teu sonho
Ousar se opor, transpor, alçar voo

Agarrar a experiência presente
Com unhas, dentes e sorrisos
Viver sem culpa e sem projetos
Simplesmente ser, viver

Fonte: 
GUSMÃO, Sonia M. L. Ousando Ser Feliz: temas de Psicologia Humanista. João Pessoa: Universitária/ UFPB, 1999. 


terça-feira, 3 de maio de 2016

ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

VISÃO DE HOMEM

Autodeterminado.

Influenciado por todas as circunstâncias de sua existência.
 Livre para escolher.
Responsável por sua vida, por suas escolhas e pelas conseqüências de suas escolhas.
Construtivo.
Positivo.

O QUE É A ACP?
A ACP é um modelo de pensamento e de atuação criado por Carl Rogers (1902-1987), que facilita para a pessoa a retomada da responsabilidade por sua própria experiência, tornando-a sujeito de seu próprio vivido.
A Psicoterapia Centrada na Pessoa possibilita ao indivíduo TORNAR-SE o que realmente É.

TENDÊNCIA ATUALIZANTE

“Todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento” (Rogers, 1977).
“O ser humano é um organismo com características próprias de um ser positivo, progressista, construtivo, realista e, em especial, merecedor de confiança” (Holanda, 1993).

CONDIÇÕES FACILITADORAS DO CRESCIMENTO PSICOLÓGICO

Compreensão Empática: Capacidade de apreender o vivido do outro.
Consideração Positiva Incondicional: Confirmação do outro enquanto um ser existente para minha subjetividade; é a consideração de sua totalidade e sua essência.
Congruência (Autenticidade): Capacidade de sermos o que realmente somos; transparentes e voltados para a relação.

Estes três requisitos são fundamentais no processo de crescimento do cliente. Ele não precisa só ser ouvido, ele precisa ser escutado e compreendido em suas diferenças e em sua realidade. Ninguém conhece melhor a sua vida e o seu sofrimento que ele próprio. Portanto, só ele pode decidir o que é melhor para si. O terapeuta entra no papel de possibilitar condições para que o cliente descubra por si o que é melhor para sua vida. 
Rogers os chamou de “Condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica de personalidade”.
Elaborado por: Ana Lúcia Palma
                        Psicóloga CRP 01/6287 



MEU CREDO PSIQUIÁTRICO


Se a pessoa espiritual não estiver presente atrás da barricada da psicose, embora condenada à impotência expressiva e instrumental, se, portanto, não for verdade que a pessoa espiritual ainda que vulnerável a perturbações seja imune à destruição pelo psicofísico, então não valerá a pena ser psiquiatra.
Porque se a pessoa espiritual não for poupada de todo o mal e de toda a decadência do psicofísico, se ela, pelo contrário, for afetada e afligida, em nome de quem deveríamos nós então, ser médicos?
Ser psiquiatra só vale a pena enquanto o podemos ser, não "para"o organismo psicofísico, mas em função da pessoa espiritual, a qual, por assim dizer, espera ser libertada por nós do "handicap"psicofísico.
Agora devo, porém, pronunciar ainda o meu segundo CREDO: se não houver o antagonismo noopsíquico facultativo, se não houver, por conseguinte, uma possibilidade de a pessoa espiritual poder se opor à psicose como doença psicofísica, nunca estaremos em condições de proceder a uma psicoterapia (ou mesmo uma Logoterapia) nas psicoses; só enquanto pudermos contar com aquele antagonismo facultativo, só então, podemos também contar com o êxito. Em outras palavras: fundamentalmente, só se o primeiro Credo for verdadeiro, vale a pena ser psiquiatra, e só se o segundo Credo for verdadeiro, estou em condições de ser psiquiatra.
A pessoa espiritual situa-se, essencialmente, além de toda morbidez e mortalidade psicofísicas, se assim não fosse, eu não desejaria ser psiquiatra: não teria sentido. E a pessoa espiritual é, essencialmente, aquela que pode opor-se a toda morbidez psicofísica, e se assim não fosse, eu não poderia ser psiquiatra, por conseguinte, não teria utilidade. 
Viktor Emil Frankl



Fonte: A Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl – ALVEF

domingo, 24 de abril de 2016

Terapia Gestáltica

GESTALT é uma visão global, totalizadora, um paradigma holístico, um gesto ético, um canto à vida. A presença da Gestalt, tanto em sua corrente psicoterapêutica como em sua função de marco ético e filosófico tem, na América Latina, um sentido diferente, embora não oposto, ao que se dá nas culturas do primeiro mundo. No entanto, embora revista aspectos culturais e práticos diferentes, a tarefa é essencialmente a mesma em qualquer parte do mundo. O importante para ser Gestaltista é SER. Para isso é necessário coragem e amor. Gestaltista é aquele que é capaz da coragem de amar. 
(Alejandro Spangenberg) 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Convite

Pois fica decretado,
A partir de hoje,
Que terapeuta é gente também.
Sofre e chora,
Ama e sente,
E, às vezes, precisa falar.
O olhar atento,
O ouvido aberto
Escutando a tristeza do outro
Quando, às vezes, a tristeza maior
Está dentro do seu peito.
Quanto a mim,
Fico triste e fico alegre
E sinto raiva também.
Sou de carne e sou de osso
E quero que você saiba isso de mim.
E agora,
Que já sabe que eu sou gente,
Quer falar de você
Para mim?

Clara Feldman de Miranda.

sábado, 16 de abril de 2016

Singelo

“Creio que eu poderia voltar e viver com os animais; eles são tão plácidos e autossuficientes. Fico olhando para eles horas a fio”.
(Walt Whitman)


domingo, 10 de abril de 2016

Holismo



Por. Eudes Alencar
Somos um todo integrado com o universo. Viver plenamente é estar conectado com a natureza, com os seres, com as pessoas e com o ambiente atemporal. Portanto, em cada ser humano existe a presença do todo (universo), e no universo-mundo existe a presença de cada ser-existente. Logo, existir é sentir a energia que flui em cada pequeno fenômeno do ambiente, desde uma folha que cai a máxima intensidade do outro. Nesse todo holístico o ar que respiramos é a energia que emanou da natureza. Em tal caso, respiramos a natureza, somos a natureza e nos constituímos com ela. Dessa forma, somos o universo. Entes orgânicos psicofisiológicos, sensórios, motores, sociais, culturais e espiritualizados. Em nós ecoa o universo, a natureza, o outro em uma trans-consciência que nos constitui enquanto seres humanos. Portanto, somos um e somos o todo, cuidar de si é cuidar do todo (natureza-ambiente-mundo-outros), consequentemente, cuidar do todo é cuidar de si.

domingo, 3 de abril de 2016

Conselho



Não colhe o botão que,
Somente amanhã
Promete desabrochar.
Dá seiva à roseira
Que,
Por si só,
A rosa se abrirá num sorriso
A te oferecer
Suas pétalas...
Seu perfume...
Dócil e
Integralmente.

(Cláudia Myriam Botelho)

terça-feira, 29 de março de 2016

Até que ponto sou livre


“Até que ponto sou livre?” 
pergunta o homem ao seu Criador. 
“Não posso despojar-me do meu corpo, 
não posso renegar minhas origens, 
não posso fugir do meu ambiente, 
não posso escapar do meu tempo.” 

“Tu não és livre de tuas condições,” responde Ele, 
 “porém, tu és livre para te posicionares diante de teus condicionamentos. 
E isto é muito além do que jamais concedi.” 

“Quando giro em torno de mim mesmo,
percorro um caminho infinito,
que não leva a lugar algum. 
Porém, ao distanciar-me de mim mesmo,
percebo o caminho para a pessoa que gostaria de ser.”

“Há uma responsabilidade diante de meus atos: 
sou responsável pelo que faço, digo, decido... 
Mas há também uma responsabilidade pela maneira como os faço: 
sou responsável pelo modo como vivo, amo e sofro...” ·

 “O corpo não pode ser construído, mas o mal-estar físico pode ser mitigado. 
A alma não pode ser consertada, mas o distúrbio psíquico pode ser curado. 
O espírito não pode ser produzido, mas a dimensão espiritual pode ser despertada.” ·
 “O que é genuíno não pode ser desmoralizado, 
o que não é mascarado não pode ser desmascarado, 
o que tem sentido não pode ser questionado.” 

”Um corpo estranho penetra na concha, ferindo-a. 
A areia áspera machuca sua carne. A concha sofre. 
A concha tenta expelir o intruso e fracassa. 
O grão de areia fixou-se. A dor não pode ser eliminada. 
Então o animal, a partir do âmago da sua natureza, busca a força 
para transformar o sofrimento em triunfo.
Do sofrimento e da aflição, da seiva de suas lágrimas, 
surge, em longos processos de crescimento interior, a pérola.”

Texto extraído do livro: Tudo tem seu sentido
Coleção Logoterapia 
Elisabeth S. Lukas 
Fonte: A Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl – ALVEF

domingo, 27 de março de 2016

Quimera


Quando surgir um problema, não adianta preocupar-se porque isto não irá resolver. Na hipótese de você encontrar a solução, não fique preocupada, apenas resolva. Quando você não perceber ainda a solução, ficar preocupada também não irá ajudar. Preocupação nunca resolve ou resolveu coisa alguma.

"As únicas pessoas realmente felizes são aquelas que encontraram uma meta na vida para amar e a qual se dedicar" (John Powell)

A necessidade humana fundamental para tornar-se feliz é: "um profundo e verdadeiro amor ao eu, uma autoaceitação genuína e alegre, uma autoestima autêntica, que resultarão num sentido interior de celebração: é bom ser eu mesmo. Estou feliz por ser eu" (John Powell).


Diz à lenda que Deus criou os seres humanos em pares. E pediu a dois anjos para povoarem a terra com a sua nova criação. Mas, os anjos distraídos tombaram um no outro e misturaram todos os pares e ai nasceu o resultado de tantos desentendimentos.
 Parece-me que todo ser humano experimentou um dia o amor pleno e perfeito. No coração do ser humano há uma “saudade” do amor perfeito que um dia sentiu. Talvez esta seja a maior prova da existência da dimensão espiritual no ser humano. Antes do nosso nascimento, fomos concebidos espiritualmente e foi ai que sentimos e experimentamos a Felicidade Plena. É deste amor que sentimos falta e que tanto buscamos incansavelmente durante a existência.




sexta-feira, 25 de março de 2016

LIberdade e Destino (Maktub)


Elias Boainain Jr. 
  • Na verdade o Existencialismo, assim entendo, superou estas duas visões (sou determinado pelo destino ou o destino me determina) que, de certa maneira, são apenas duas facetas (ou versões) da mesma dialética do dominador—dominado. O Existencialismo nos da outra possibilidade. O "destino" é entendido pelos existencialistas como aqueles aspectos da nossa existência que de fato são exteriormente determinados, não são de minha escolha, me são impostos quer eu queira ou não, a começar das "condições de lançamento", a situação como fui lançado no mundo. Nasci ser humano, homem, brasileiro, com determinadas características genéticas, em uma família, e nada disso fui eu que escolhi foi o meu "destino". Da mesma forma, saio à rua e me acontecem coisas imprevistas que não fui eu quem fiz, quis ou escolhi (um prosaico pneu furado, por exemplo). Foi o destino. Mas isto, de forma alguma tolhe minha liberdade e minha responsabilidade frente minha existência, pois se liberdade é a possibilidade de escolha e se responsabilidade é possibilidade de responder, frente a qualquer destino eu não só posso como sou obrigado a responder ("condenado a liberdade", diria Sartre). E isto (minha resposta) não é determinada pelo destino (salvo o fato de que sou livre, sempre e inescapavelmente livre, ser livre faz parte de meu destino e isto eu não escolhi ser nem posso mudar - embora possa escolher agir de "má fé" fingindo que não sou livre para escolher e responder). "Ser livre não é fazer o que quiser, mas fazer o que quiser com o que fazem conosco". Parafraseando esta frase (mais ou menos acho que foi isso que ele disse) de Sartre, a liberdade não é fazer o nosso destino, criar o destino que quisemos, mas sim responder a ele, escolher o que fazer com ele.

  • A cada ação minha, seguem-se conseqüências (muitas delas imprevisíveis e acidentais - e por vezes tão mais imprevisíveis e surpreendentes quanto mais inteira, livre e autêntica foi minha ação) às quais será necessário novamente responder. Dou minha resposta e aguardo o que o destino responda, e novamente dou minha resposta. Na verdade dependo da resposta do destino para poder responder, dependo de uma situação concreta para poder exercer concretamente minha liberdade. Não há contradição entre liberdade e destino, mas interdependência. Da mesma forma que não há oposição entre a vida e a morte, pois se o nascimento e a morte são os acontecimentos máximos de nosso destino, nossa existência inteira (o que fizemos com este fato inescapável de que nascemos e vamos morrer) é a nossa livre resposta a estes e aos outros acontecimentos menores através dos quais, a todo momento, o destino nos interpelara e pedira nossa resposta. 

  • Não creio assim que seja correto dizer que moldamos livremente nossos destinos, mas sim que, respondendo livremente a ele criamos a nós mesmos. E só na medida em que damos respostas livres e autenticas, ou seja, nossas respostas, é que também podemos receber do destino as respostas que são realmente para nós (e não para uma mentirosa versão de nós mesmos, o que fatalmente levaria-nos também a um desvio de nosso "destino verdadeiro"), ou seja, nosso, destino. Assim, podemos dizer que ser livremente a si mesmo, dando respostas autênticas (que mais plenamente expressam quem sou), é aceitar e ir de encontro ao próprio destino, já que tanto o destino quanto nosso próprio ser (sejam os autênticos e verdadeiros, sejam um falso ser e um falso destino) se criam e se desvelam juntos, no "entre" de sua relação. 
“Destino e liberdade juraram fidelidade mútua. Somente o homem que atualiza a liberdade encontra o destino. Quando eu descubro a ação que me requer, é aí, nesse movimento de minimizar liberdade que se revela o mistério. (...) Àquele que se esquece de toda causalidade e toma uma decisão do fundo de seu ser, àquele que se despoja dos bens e das vestimentas para se apresentar despido diante da Face, a este homem livre, o destino aparece como réplica de sua liberdade. Ele não é o seu limite mas o complemento; liberdade e destino unem-se para dar sentido; e neste sentido o destino, até há pouco olhar severo suaviza-se como se a própria graça” (Buber, “Eu-Tu”, Cortez Morales, 1979, pág. 62). 

Easyrider


Eu quis saber, quis descobrir meu lugar
Quis encontrar onde me encaixar ou o que encaixasse em mim
Investiguei e revirei o meu passado
E procurei por provas – evidências
E me achei num nó pior do que pensei
E eu tentei desatar fio por fio
Buscando o fio da meada
Por mais que eu saiba, descobri que eu nada sei
Pois para saber é preciso trilhar o caminho
Registrar cada momento
E buscar seguir o rumo, mesmo que haja uma pedra
Uma tempestade
O rumo estará lá, a meta, a seta (incerta), é bem verdade
Mas aponta
Aqui me apresento como alguém que quis saber
[o que ia ser quando crescer]
E hoje só quer ser, e o que vai ser do meu futuro?
Eu não sei, mas saberei seu eu for

Paola, 16 anos

(Com arroubos de escritora e talento tão incerto como o ritmo desta “poesia “).

quinta-feira, 24 de março de 2016

Seres recíprocos

Reciprocidade é a comunicação autêntica entre duas pessoas. Esta intercomunicação é oportunizada pela linguagem, seja verbal e/ou não-verbal, que é libertada por aquele motivo que se transforma em ação e condição de atender a necessidade do si-mesmo e do outro(s). Reciprocidade é o sentir, o agir, o atender, o trocar num plano não explicativo-analítico, porém, numa dinâmica interpessoal energética. Pessoas recíprocas são sensíveis, imaginativas, criativas e naturalmente conectadas com o universo. De tempos a tempos, sentem-se numa condição de solidão, de conexão pessoal com vivências de contato junto as sensações organísmicas. Este vínculo pessoal é um estado de conexão com a condição de ser-único-singular. Pessoas recíprocas ao ligar-se com outros-recíprocos vivem uma conjunção de encantamento de deslumbramento, de vivências intensas a começar com sensações corporais resultando em experiencias existenciais. A correspondência entre seres recíprocos ultrapassam os limites espaço-tempo, em vista disso, realiza-se mediante a intuição, o pressentimento e a revelação num plano dos sentidos. Quem vive a reciprocidade sente o mundo, a natureza, as pessoas, os seres vivos por meio de uma relação holística. Isto é, o todo em qualquer parte, e cada parte na universalidade.

domingo, 20 de março de 2016

Contato

Sensações corpóreas, fisiológicas, emocionais e espiritualmente intensas. Quando duas 'almas' se encontram, no campo gestáltico, essas percepções são compreendidas apenas pela relação daqueles que estão envolvidos na dinâmica do encontro. Permitir-se viver essas sensações é a tentativa de viver mais intensamente e autenticamente congruentes com as necessidades organísmicas. Entrar em contato consigo mesmo e com o outro, exige coragem e abertura para viver o aqui-e-agora. Deixar-se guiar pelas sensações é abrir possibilidades de 'ser-si-mesmo'. Uma experiência genuína além, muito longínquo, das regras, hábitos e normas sociais. 
A sociedade neurotiza e retira a espontaneidade do encontro físico, emocional e 'espiritualmente' transconciencial. As sensações do contato são experiencias únicas, irrepetíveis e singulares. Portanto, permitir-se viver, sentir, experimentar e experienciar os horizontes das possibilidades é reconhecer o merecimento de ser-si-mesmo.

O PAPEL DO TERAPEUTA por Aidda Pustilnik

  O cliente perceber que o terapeuta está com ele. As vezes é triste ser terapeuta, porque a pessoa estava pronta para fazer a ação e não ...