quarta-feira, 18 de maio de 2022

O Cuidado

 



Ao atravessar o cuidado um rio, vê um barro argiloso,
e colhendo-o pensativo começa a modelá-lo.
Enquanto pensa no que havia feito, Júpiter se apresenta.
O cuidado pede a ele que lhe dê espírito e facilmente o consegue.
Como o cuidado quisesse dar-lhe seu próprio nome,
Nega-se Júpiter e exige que lhe seja posto o seu.
Enquanto eles discutem, intervém também a Terra pedindo que seu nome seja dado a quem 
ela dera o corpo.
Tomaram Saturno por juiz e este, equitativo julga:
“Tu Júpiter porque lhe deste o espírito na morte receberás o espírito.
E tu, Terra, porque lhe deste o corpo, deves receber o corpo.
E ao Cuidado ele deve pertencer enquanto viva, pois foi ele o primeiro a modelá-lo.
E quanto a disputa entre vocês pelo nome, que ele se chame homo pois foi feito de humus.

Fonte: Ser e Tempo (p.219) – Parágrafo 42.

A Lição da Borboleta


 Machu Picchu
O homem observava o casulo há dias quando percebeu que nele se abria um pequeno orifício. Durante horas, a borboleta tentou fazer passar seu corpo pela abertura. De repente parou, como se não conseguisse ir adiante. O homem resolveu ajudá-la. Com uma tesoura cortou o restante do casulo. A borboleta deixou o facilmente. Mas seu corpo era pequeno; estava murcho e as asas amassadas. O homem continuou observando. Esperava o momento em que as asas se abrissem e se esticassem para o primeiro voo. Mas nada aconteceu. A borboleta rastejava, o corpo murcho, as asas encolhidas. Jamais foi capaz de voar. Ansioso para ajudar, o homem não sabia. Não conhecia o processo da metamorfose que permite o voo da borboleta. Pois que é o seu esforço que lhe dá esta capacidade: ao comprimir seu corpo pelo orifício do casulo, secreta a substância necessária para esticar as asas e voar. Como a borboleta, também nós precisamos de esforço muitas vezes em nossa vida. Sem obstáculos e a força necessária para vencê-los, ficaríamos enfraquecidos, jamais seríamos capazes de voar. 

Anônimo 

Fonte: Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?
 John Powell

domingo, 1 de maio de 2022

Aprendizagem e existência

Eudes Alencar

 

A escola poderia ser um lugar festivo. Encontramos nela um espaço em que vários personagens interagem, sendo eles o professor, o aluno e a família. A escola é o universo das relações interpessoais. Nessa universalidade o professor é a autoridade em relações humanas, isto é, o especialista em pessoas, educador da inteligência intrapessoal e interpessoal preconizada por Howard Gardner, o cientista das inteligências múltiplas. Nesse propósito, seguimos a ideia do professor como um ser existente para dar sentido ao aprender de cada singularidade presente em sala de aula. Objetivo esse defendido por Henri Wallon, o teórico desenvolvimentista da educação integral

Nesse sentido, dentre as várias definições do que é aprender destacamos a aprendizagem do existir humano. Aprendizagem é enfrentar a separação do que se era (noção do existir), do que se sabia (noção da cognição) e do que se havia aprendido (noção da mudança). Assim, a existência é um horizonte de conquistas que exige desapego e a compreensão de que nada é permanente. Desse modo, diante das possibilidades o poder de sermos está nas escolhas que fazemos e por consequência daquilo que deixamos de optar.

 Em educação existe a premissa de que para fazermos parte da solução, é preciso aceitar fazer parte do problema. Dito de outro modo, na Psicologia da Gestalt: “o todo é diferente da soma das partes”. Sabedores que em cada parte também existe o todo.

           Existencialmente, a vida torna-se existência quando o ser vivido toma consciência, no presente, de sua experiência de ser-no-mundo. Por isso, a felicidade está sempre vinculada a aquilo que nos falta. A experiência de ser feliz não é uma conquista, e sim, uma busca perene. E sobre a falta ela sempre estará presente pelo fato de sermos seres finitos e isso já nos remete a ideia de que não temos tempo para fazer tudo. O sentido da vida é a experiência que temos no nosso modo de existir e daí surge o significado do viver, que nos mostra a direção como uma bússola de existência. Desse modo, a espera é diferente da esperança. A esperança é uma ação para algo se tornar uma realidade, em sentido contrário, esperar é a incerteza do que se quer. Por consequência, para a esperança começar a espera precisa terminar. Dentro disso, é necessário saber se vivemos condizente com a esperança ou estagnados na espera. Por isso, muitos podem viver uma existência sem esperança. A vida é experienciar aquilo que vivemos no presente e não buscar, no futuro, aquilo que ainda não sabemos se será presente um dia. A vida é o aqui-e-agora, o tempo presente no real e não um ensaio de algo que não existe. Ou seja, o presente é a única coisa que temos por isso nem o perdemos e nem seremos por ele abandonados. 

O PAPEL DO TERAPEUTA por Aidda Pustilnik

  O cliente perceber que o terapeuta está com ele. As vezes é triste ser terapeuta, porque a pessoa estava pronta para fazer a ação e não ...