CONCEPÇÃO
DE CRIANÇA EM GESTALT-TERAPIA: DIÁLOGOS COM A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA
Eudes Alencar[1]
Rosângela Francischini[2]
Resumo:
O presente trabalho tem como propósito discutir e
estabelecer diálogos acerca da concepção de criança em Gestalt-terapia e suas
aproximações possíveis com a Sociologia da Infância. Em função disso,
realizaremos algumas considerações sobre: os pressupostos históricos dessa
abordagem e o significado da palavra Gestalt;
as influências da filosofia fenomenológica, do existencialismo dialógico e da
teoria de campo nessa vertente psicológica; os pressupostos epistemológicos
construídos a partir da interação (contato-experiencia) do sujeito com o
contexto, destacando os conceitos centrais da abordagem gestáltica. Discutiremos
a concepção de sujeito/criança em Gestalt-terapia estabelecendo um diálogo com
alguns pressupostos da Sociologia da Infância.
Palavras-chave: concepção de criança;
sociologia da infância; gestalt-terapia.
Gestalt-terapia: pressupostos
históricos, filosóficos e epistemológicos
A
Gestalt-terapia configura-se como uma abordagem psicológica construída
filosoficamente a partir de pressupostos existenciais e fenomenológicos, fundada
oficialmente por Friederich Salomon Perls (1893
- 1970), mais conhecido como Fritz Perls,
e Laura Perls (1905 - 1990), em torno dos anos 40 (Ginger
e Ginger,1995, Yontef, 1998). Alguns autores, consideram o nascimento e o
batismo oficial da Gestalt-terapia datada no ano 1951, em Nova York, por
ocasião do lançamento do livro Gestalt-Theraphy[3].
Portanto, podemos afirmar que essa vertente emergiu,
oficialmente, no contexto da sociedade americana (Ginger
e Ginger,1995). No entanto, por serem seus principais representantes de
origem alemã, os antecedentes históricos dessa abordagem
são europeus.
Iniciamos
por tentar compreender o significado da palavra Gestalt. Este termo, alemão,
por não apresentar um significado equivalente em outras línguas, é utilizado em
publicações científicas com a tradução “forma” ou equivalentes. Nessa direção,
Ginger e Ginger (1995) afirmam: “Gestalten significa
‘dar forma, dar uma estrutura significante’.” Esse mesmo autor continua: “Na realidade, mais
do que Gestalt, exato seria dizer Gestaltung, palavra que indica
uma ação prevista, em curso ou acabada, que implica um processo de dar forma,
uma ‘formação’” (p.13). Portanto, essa palavra revela e focaliza mais o
processo do que uma estrutura de conformação.
Como
assinalamos anteriormente, a abordagem gestáltica está ancorada filosoficamente
na fenomenologia[4]
(Edmund Husserl, Merleau-Ponty, Martin Heidegger) e no existencialismo
dialógico[5] (Martin Buber), sendo
também fundamentada na teoria de campo[6] (Kurt Lewin). Nesse
sentido, Yontef (1998) entende que a
Gestalt-terapia é definida por três princípios fundamentais: O primeiro,
enquanto perspectiva fenomenológica, refere-se à awareness[7]
(consciência), como único objetivo e
metodologia dessa abordagem psicológica; o segundo, refere-se a sua fundamentação
teórica, sendo uma terapia baseada no existencialismo dialógico, qual seja, o
processo relacional de contato do sujeito com o outro; o terceiro e último,
refere-se ao seu fundamento conceitual, isto é, alicerça-se numa concepção
holística[8] e na
teoria de campo. Em vista disso, Lizias (2010) afirma que esses três
princípios formam o alicerce epistemológico da Gestalt-terapia, razão pela qual
a prática gestáltica precisa estar articulada e ancorada congruentemente nos
pressupostos e componentes de seu arcabouço teórico e filosófico. Desse modo,
ao referir-se a Friederich Perls, principal representante da abordagem
gestáltica, este mesmo autor atesta:
se não fosse a
genialidade de Perls, seu talento profético e sua visão de mundo ao colocar a
Gestalt-terapia num paradigma holístico e dialético, estaríamos sendo
consumidos por uma concepção de conhecimento da relação sujeito-objeto
(condição fundamental de qualquer epistemologia) cristalizada por uma teoria
obsoleta que não daria conta de umas práxis terapeuta da atualidade (p.51)
Nesse mesmo
percurso, Robine (2006) afirma que “a gestalt-terapia é um sistema teórico e
metodológico composto, que se originou da psicanálise, da psicologia da Gestalt
e da fenomenologia, e aliás, de algumas de suas extensões, do lado dos
existencialismos” (p.21). Para este autor, essas diferentes perspectivas
teóricas constituem a herança da Gestalt-terapia e, de maneira integrada,
contribuíram para o surgimento de uma nova configuração teórica.
Ainda
em relação às bases filosóficas, epistemológicas e teóricas da Gestalt-terapia,
Lizias (2010) argumenta que é possível perceber no cenário nacional e
internacional da abordagem gestáltica, uma diversidade de elementos conceituais
que podem suscitar diferentes práticas clínicas. Estas diversas linhas do
pensar e do fazer gestalt-terapia, como já mencionamos, estão sustentadas por
distintas teorias de conhecimento e determinados sistemas filosóficos. Desse
modo, justificamos a necessidade de uma reflexão por parte dos gestalt-terapeutas
em relação às bases teóricas que sustentam suas práticas clínicas. Essa é uma
discussão que se mostra muito ampla, e que, dadas as dimensões deste estudo, não
será possível aborda-la. Assim, seguindo os propósitos deste artigo, gostaríamos
de realizar algumas reflexões sobre a concepção de sujeito/criança em
gestalt-terapia.
Concepção de
sujeito/criança na Gestalt-terapia – aproximações com a Sociologia da Infância
Antes de
introduzirmos o estudo sobre a concepção de criança em Gestalt-Terapia, é
preciso tecermos algumas considerações sobre a abrangência dos estudos acerca
do sujeito gestáltico e sua relação com o meio. Em um primeiro plano de
reflexão, Perls, Hefferline, e Goodman (1951/1997) afirmam: “Em toda e qualquer
investigação biológica, psicológica ou sociológica temos de partir da interação
entre organismo e seu ambiente” (p.42). Nessa mesma direção, Robine (2006)
explicita que a concepção de sujeito em Gestalt-terapia leva em conta o
pressuposto de que os fatores biológicos, fisiológicos e socioculturais são
elementos constituintes do ser humano. Isto posto, o indivíduo pertencente à
espécie humana procede de fatores biológicos; todavia, não é reduzido a essa
natureza, sendo, também, constituído em sua condição social, a partir das
relações dinâmicas com outrem nos diversos contextos nos quais encontra-se
inserido. A respeito da relação dialética entre pessoa-meio, Perls (1988) explicita:
O
meio não cria o indivíduo, nem este cria o meio. Cada um é o que é, com suas características
individuais, devido a seu relacionamento com o outro e o todo (. . .) ninguém é
auto-suficiente; o indivíduo só pode existir num campo circundante. É,
inevitavelmente, a cada momento, uma parte de algum campo[9]. Seu comportamento é uma
função do campo total, que inclui a ambos: ele e seu meio”. O tipo de relação
homem/meio determina o comportamento humano (. . .) com esta nova perspectiva,
organismo e meio se mantêm numa relação de reciprocidade. Um não é a vítima do
outro. Seu relacionamento é, realmente, o de opostos dialéticos. Para
satisfazer suas necessidades, o organismo tem que achar os suplementos
necessários no meio” (pp.31-32)
Em
relação a essa citação, Perls ressalta o caráter singular da constituição do
sujeito gestáltico que interage, em sua totalidade, com o campo
em toda sua plenitude física e social. Portanto, esta interação
é dinâmica e nutritiva, atendendo as necessidades organísmicas da pessoa,
considerando as peculiaridades de sua constituição. Perls et al., (1951/1997)
explicita que “não tem sentido, por conseguinte, tentar lidar com qualquer
comportamento psicológico fora de seu contexto sociocultural, biológico e
físico” (p.46).
Nesse mesmo ponto de
vista Ribeiro (2009) nos convida a conceber o comportamento do sujeito
gestáltico como resultante de uma relação mutuamente interdependente entre
pessoa e meio. Assim sendo, para esse autor, no estabelecimento da relação
dialética pessoa/meio “nada fica excluído. Tudo fica incluído e tudo se
relaciona com o tudo neste universo existencial, experiencial e experimental”
(p.68); portanto, os fatores psicológicos e não-psicológicos do contexto são os
determinantes que configuram a singularidade do tipo de relação que o sujeito
estabelecerá com o meio.
De acordo com Aguiar
(2014), a Gestalt-terapia concebe o sujeito como uma unidade: holística,
relacional, contextualizada, portanto, constituído e construído a partir de uma
realidade sendo atravessado por todos os elementos presentes no campo
contextual e que dinamicamente afetam sua relação intrapessoal e
interpessoal. Esta mesma autora
continua: “Assim, quando falamos de relação em Gestalt-terapia, referimo-nos a
uma interação constante, na qual o ser humano é transformado, construído e constituído
pelo meio, mas também influencia, modifica e transforma esse meio, deixando a
sua ‘marca’ e tornando-o assimilável e provido de significado” (p.31-32). Ainda sobre a relação sujeito/meio, Ribeiro (2009) nos
apresenta o conceito de Espaço Vital, como “a totalidade dos fatos ou
eventos possíveis, coexistentes e mutuamente interdependentes, os quais
determinam o comportamento de um indivíduo em dado momento, sendo eles partes
constituintes da realidade e não apenas partes ou um conjunto aditivo, podendo
ser expressos matematicamente” (p.68). À vista disso, o espaço vital é
dinâmico, estabelecendo inter-relações entre todos os fatores e eventos
envolvidos num dado momento acerca da relação do sujeito com o meio. Sendo
assim, esse autor compreende que, para a Gestalt-terapia, a realidade da criança,
principalmente das pequenas, é em relação ao adulto, essencialmente mais o
presente, e menos o passado e o futuro, seu mundo espaço-temporal expressa-se
no seu corpo e na forma como sente e experimenta a realidade. Por isso, as
crianças são seres, presentificados, inteiros, com toda a riqueza relacional,
espontâneas e transparentes, interagindo com o mundo numa dinâmica, integrada,
entre suas emoções, cognições, motricidade, percepções e sentidos.
Em relação às discussões e reflexões
sobre a concepção de criança em Gestalt-terapia é importante mencionarmos que
ainda são poucos os estudos sistematizados dentro de uma perspectiva
gestáltica, com crianças (Aguiar, 2014). Um segundo ponto a destacar é que o
modo pelo qual a Gestalt-terapia concebe a criança é indissociável dos
pressupostos filosóficos e epistemológicos que sustentam as bases dessa
abordagem psicológica. Em vista disso, Lizias (2010) afirma: “Elementos como contato, awareness e campo organismo/meio formam
o arcabouço teórico principal da Gestalt-terapia. Conjugando-os de forma
coerente e em constante interface com os fundamentos de base, podemos conhecer
o savoir-faire gestáltico com
crianças” (p.63). De acordo com Aguiar (2014), é fundamental vincular o
trabalho com crianças a uma concepção de sujeito que considere sua natureza
relacional, histórica e social. Essa nova visão aproxima-se do campo da
Sociologia da Infância, propondo um importante desafio teórico-metodológico:
conceber as crianças como atores sociais plenos e como sujeitos de direitos, situando-as numa concepção
global, integral e interdependente, sendo sua relação com o meio manifestada
pela idiossincrasia de sua unicidade enquanto sujeito (Delgado e Müller, 2005).
Portanto, a
metodologia e as técnicas gestálticas compartilham com a compreensão de que não
existe apenas uma criança, mas tantas quantas possam emergir, a partir dos
diferentes contextos nos quais vivenciam sua infância.[10] Nesse
sentido, Qvortrup (2011), um dos principais teóricos da Sociologia da Infância,
nos lembra que todas as sociedades têm a infância como traço constante em sua
estrutura social, que diz respeito ao grupo geracional. No entanto, as
diversidades culturais, sociais e históricas, as alterações a que estão
sujeitas as sociedades (legislativas, políticas, econômicas, dentre outras)
fazem com que as crianças, sujeitos que vivenciam essa condição de infância, o
façam de formas igualmente diversificadas e em constantes modificações. Na mesma direção, Sarmento (1997) afirma:
“(...) ‘ser criança’ varia entre sociedades, culturas e comunidades, pode
variar no interior da fratria de uma mesma família e varia de acordo com a
estratificação social. Do mesmo modo, varia com a duração histórica e com a
definição institucional da infância dominante em cada época” (p. 17). Nesse
mesmo seguimento, Lizias (2010) confirma: “Outra
questão que deve ser observada é que não se pode falar de criança no singular,
já que existem tantos modos de ser e existir da condição infantil quanto são as
estrelas no firmamento” (p.52). Em vista disso, a abordagem gestáltica situa
o ser humano a partir de uma concepção integral e não fragmentada da realidade
circundante. Isto é, a criança é concebida holisticamente como uma totalidade
articulada às especificidades dos diferentes contextos.
Frente a essa concepção de criança, é importante ressaltar
que a Gestalt-terapia não nega a normatividade desenvolvimental do ser humano,
ou seja, o que há em comum no comportamento entre os sujeitos nas diversas
faixas etárias. Nessa mesma linha de
discussão, Lizias (2010) explica: “O problema,
no que diz respeito às crianças, é querer percebê-las como teorias de
desenvolvimento que precisam ser atualizadas para que possam dar conta do
sujeito-criança que emerge, cada vez mais, com novas cores e formas” (p.51) Não
obstante, interessa para essa abordagem, a compreensão da idiografia acerca das
regularidades comportamentais que configuram a criança como um ser único e
irrepetivel. Posto isto, esta abordagem situa a criança numa concepção global,
integral e interdependente, sendo sua relação com o meio manifestada pela idiossincrasia
de sua unicidade enquanto sujeito. Nesse sentido, Aguiar (2014) afirma: “Assim,
a criança, tal como a percebemos, é vista como um ser total ou global, o que
implica considerar uma inevitável vinculação, reciprocidade e retroalimentação
entre fatores emocionais, cognitivos, orgânicos, comportamentais, históricos,
culturais, geográficos e espirituais” (p.29). Por conseguinte, ainda para esta
autora, esses fatores caracterizam-se por serem dinâmicos, interdependentes e intimamente
articulados, ou seja, não podem ser compreendidos isoladamente.
Nesse contexto de discussão, gostaríamos de realizar algumas
considerações sobre ética na prática gestáltica com crianças. Para Lizias
(2010) “O desafio de quem educa ou trabalha com
crianças é conseguir encontrar uma postura ética ao incluir-se no mundo
fenomenológico da criança e não considerar a percepção desta da mesma maneira
que acontece no modo do adulto perceber o mundo” (p.54).[11]
Isto é, a maneira como a criança generaliza e compreende os diversos eventos do
meio circundante é diferente da forma como os adultos abstraem essas mesmas
situações. As crianças não são objetos de observação do método gestáltico; ao
contrário, são partícipes do seu processo de constituição enquanto sujeitos ativos
e relacionais. Sendo assim, esse mesmo autor argumenta: “As crianças
estão muito mais para ensinar à Gestalt-terapia a maravilha da vivência no
presente transiente com sua espontaneidade e potencial criativo do que para
serem pensadas como objetos de análises” (p.62). Igualmente,
os “novos estudos da Infância” que têm a Sociologia da Infância como um locus representativo de discussão, vem
contribuindo por posicionar as crianças como seres em constante
construção, considerando as condições, as peculiaridades, enfim, as vivências
que cada criança experiencia em sua infância que, em termos da Gestalt-terapia,
significa conceber a criança a partir de uma visão holística de sujeito:
histórico, cultural e social.
Justo por isso, as crianças são concebidas como autônomas em
suas ações, em seus pensamentos, na forma como constroem conhecimento e
interagem com os outros. Nesse seguimento, Ribeiro (2009) confirma: “O modo de
desenvolvimento, na criança ou no adulto, apresenta sempre um processo de
diferenciação e integração” (p.148) que garante, como já mencionamos, sua
singularidade na forma de experienciar e experimentar os diferentes
significados que se manifestam a partir de sua realidade concebida
holisticamente. Diante disso, a gestalt-terapia compreende a criança como um
ser relacional, ou seja, se constitui por meio da relação com o outro, sendo,
portanto, um ser que se diferencia do outro, mas, inevitavelmente está ligado ao
outro (Aguiar, 2014).
Nessa busca em compreender a criança enquanto um ser
relacional, Yontef (1998) adverte:
“A criança necessita de um relacionamento
parental com um equilíbrio organismico/ecológico nutritivo. Por exemplo, a mãe
deve cuidar para que as necessidades da criança sejam atendidas e para que o desenvolvimento
de suas potencialidades seja facilitado. A criança necessita desse modelo
carinhoso e nutritivo para se espelhar. Ela também precisa de espaço para
lutar, ficar frustrada e falhar. Além disso, precisa de limites para
experienciar as consequências de seu comportamento” (p.46). Consequentemente, no
contexto relacional dos diversos arranjos familiares e dos diferentes tipos de
famílias organizadas por distintas redes de relações é que a criança
constitui-se enquanto sujeito relacional. Nas palavras do próprio Perls,
(1988)
O problema real começa quando os
pais interferem na maturação da criança, ou mimando-a e interrompendo suas
tentativas de descobrir seus próprios pontos de apoio, ou sendo superprotetores,
e destruindo sua confiança em sua habilidade de se autobastar, dentro dos
limites de seu desenvolvimento. Encaram a criança como uma coisa que possuem
para ser protegida ou exibida (p.84).
Em vista disso, Aguiar (2014) explicita “Assim, podemos
afirmar que em Gestalt-terapia a relação é o cerne da construção da
possibilidade de reconstrução do ser humano” (p.40). Dessa forma, no espaço das configurações familiares as
crianças constroem estruturas cognitivas, emocionais e sociais e assim, podem imergir
no mundo social com toda a riqueza de possibilidades de sua condição humana. Para Antony (2012) “a criança é um todo, mas também é uma parte
que pertence a um todo – família – que está inserida em um outro todo – a
sociedade, a escola – compondo uma rede de conexões interminável” (p.25). Portanto, a família, enquanto estrutura primária da
sociedade, permeada por valores, normas e diversidades culturais, cumpre sua
função enquanto espaço constitutivo da criança.
Em suma, a Gestalt-terapia com crianças destaca-se como uma
abordagem de base holística, enfocando o caráter dialético relacional
pessoa/meio, compondo uma unidade integrada e interdependente entre os fatores
biológicos, psicológicos e sociais (Antony, 2012 e Woodhead,1997). Assim sendo,
para Antony (2012): “A criança é uma gestalt
neuropsicomotora indissociável e original em desenvolvimento que necessita ser
vista como um todo unificado, a fim de ser compreendida em seu processo
singular de tornar-se sujeito e artista de sua existência” (p.27). Destarte, não
há espaço para concepções individualistas, reducionistas e naturalizantes sobre
a criança, concepções essas igualmente criticadas pela Sociologia da Infância,
que afirma serem, as crianças, atores sociais (Prout and James, 1990), com
competências para criar e modificar culturas, mesmo estando inseridas no mundo
adulto (Delgado e Müller,
2005). Outrossim, as
crianças para a Gestalt-terapia são um universo presente de possibilidades,
artífices em seu processo de construção desenvolvimental e constituídas singularmente
por suas experiências e experimentações do sabor único de viver e ser criança.
Referências
Aguiar, L. (2014). Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. São Paulo: Summus.
Antony, S. M. R. (2012). Gestalt-terapia: cuidando de crianças,
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Delgado, A.C.C.; Müller, F (2005).
Apresentação: “Sociologia da infância: pesquisa com crianças”. Educação & Sociedade, Campinas, v. 26,
n. 91, p. 351-360, maio/ago.
Francischini, R., Fernandes, N. (2016). Os
desafios da pesquisa ética com crianças. Estudos
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Ginger, S., Ginger, A. (1995). Gestalt-terapia: uma terapia do contato (5ª
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1987)
Lizias, S. (2010). Epistemologia gestáltica
e a prática clínica com crianças. In: S. Antony (org). A clínica gestáltica com crianças: caminhos de crescimento (pp. 47
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Perls, F., Hefferline, R., e Goodman, P.
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R. Ribeiro, Trad.). São Paulo: Summus. (Trabalho original publicado em 1951).
Perls, F. S. (1977). Gestalt-terapia explicada (11ª ed. G. Schlesinger, Trad.). São Paulo:
Summus. (Trabalho original publicado em 1969).
Perls, F. (1988). A
abordagem gestáltica e testemunha ocular (2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar.
(Trabalho original publicado em 1973)
Prout, A. and James, A. (1990). “A New
paradigma for the sociology of childhood? Provenance, promise and problems”. In
A. James and A. Prout (eds). Constructing
and Reconstructing Childhood. Basingstoke: Falmer Press.
Qvortrup, J. (2011). “Childhood as a
Structural Form”. In J. Qvortrup, W. A. Corsaro and M-S. Honig (ed.), The Palgrave Handbook of Childhood Studies.
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Ribeiro, J. P. (2009). Gestalt-terapia de curta duração (7a ed.). São Paulo: Summus.
Robine, J. M. (2006). O self desdobrado: perspectiva de campo em gestalt-terapia. São
Paulo: Summus.
Sarmento, M. J. e Pinto, M. (1997). As
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M. J. Sarmento. (coord). As crianças –
contextos e identidades. Braga, Universidade do Minho.
Woodhead, M.
(1997) “Psychology and the cultural construction of children’s needs”. In A. James and A. Prout (eds). Constructing and Reconstructing Childhood. Basingstoke: Falmer Press.
Yontef, G. M. (1998). Processo,
Diálogo e Awareness: ensaios em gestalt-terapia (3ª ed., E. Stern, Trad.). São Paulo: Summus. (Trabalho
original publicado em 1993)
[1] UNI-RN, Brasil, E-mail: eudesjr@gmail.com
[2] UFRN, Brasil, E-mail:
rofrancischini@gmail.com
[3] Perls, F., Hefferline, R.
F., and Goodman, P. (1951). Gestalt therapy: Excitement and growth in the human
personality. Nova York.
[4] A
fenomenologia, como filosofia, estuda o fenômeno em si, a essência, ponto final
e irredutível de nossas percepções e o desvendamento do nosso objeto de procura
do conhecimento. É um conhecimento a
priori, uma ontologia que estuda o ser, universal ou individual, como dado
para nossa consciência” (Ribeiro, 2009, p.43).
[5] Um dos principais representantes do
existencialismo dialógico é Martin Buber (1878 – 1965). Sua filosofia é
considerada dialética, por tratar das questões relacionadas à totalidade da
existência humana.
[6] Teoria do campo, de Kurt Lewin (1890- 947)
descreve a relação integrada e integradora da pessoa-campo (meio, ambiente,
contexto). A noção de campo (pessoa/meio) constitui o pressuposto fundamental
dessa teoria (Ribeiro, 2009).
[7] “Awareness: consciência, conhecimento,
percepção, tomada de consciência, compreensão, sensação de presença,
presentificação. Não existe tradução perfeita para o português, e a palavra awareness
será traduzida de distintas maneiras dependendo do contexto em que se encontra”
(Perls, 1977, p.30).
[8] Visão holística em Gestalt-terapia significa
a integração e a unidade bio-psico-social do ser humano. Portanto, a concepção
de um organismo como um sistema totalizante e interdependente em sua
constituição.
[9] “O campo é um todo, no qual as partes estão
em relacionamento imediato e reagem umas às outras, e nenhuma deixa de ser
influenciada pelo que acontece em outro lugar do campo. O campo substitui a
noção de partículas discretas, isoladas. A pessoa em seu espaço vital constitui
um campo” (Yontef,1998, p.17).
[10] Categoria geracional a qual
pertencem as crianças (seres concretos).
[11] Em relação à postura
ética no trabalho com crianças, convidamos o leitor a recorrer ao artigo Os desafios da pesquisa ética com crianças.
(Francischini & Fernandes, 2016)
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